Cultivo do milho verde
O milho é uma das fontes de carboidratos mais consumidas em todo o mundo, sendo a cultura que passou pelo mais longo processo de melhoramento genético, e também o cultivo mais estudado em toda a história da humanidade. O milho verde possui uma série de peculiaridades que devem ser levadas em conta para a sua produção, e que detalharemos melhor ao longo deste artigo.
O milho verde é o milho consumido “in natura”, sendo também utilizado pela indústria de milho em conserva e para a produção de pamonha, curau, suco, sorvete etc. Quando comparado ao milho grão, o milho verde possui um maior teor de açúcares e menor teor de amido, por ser colhido mais cedo. Entretanto, após a colheita, os açúcares do milho verde continuam a ser gradualmente transformados em amido, tornando-os duros, amargos e farináceos, gerando a perda do produto. As variedades de milho verde disponíveis no Brasil ainda não possuem boas características nesse sentido, com baixo teor de açúcares e rápida conversão em amido, diferente das variedades norte-americanas e européias, que são notadamente doces.

No Brasil a produção de milho verde é feita principalmente em pequenas propriedades, que possuem de 1 a 5 hectares [20], pois os bons preços de mercado e a necessidade do fornecimento constante ao mercado consumidor favorecem a sobrevivência dos pequenos e médios produtores. Lavouras irrigadas possibilitam o suprimento do mercado mesmo nos meses mais secos. A produção tem se concentrado principalmente nos estados de MG, SP, e GO. [15]
As vendas da produção de milho verde são realizadas principalmente através dos Ceasas, facilitando assim a sua distribuição e a formação dos preços dos mesmos. As vendas são feitas em sacos de 25 kg, que possuem em média de 50 a 55 espigas. [20] O número de atravessadores na cadeia de distribuição do milho verde costuma ser muito grande, sendo comum a venda do milho 4 ou 5 vezes antes de chegar à mesa do consumidor final, o que gera aumentos de preço muitas vezes superiores a 10 vezes o valor inicial do produto.
Preferências dos consumidores

Os consumidores brasileiros preferem espigas com grãos dentados amarelos, uniformes, com espigas longas e cilíndricas (maiores que 15 cm de comprimento de 3 cm de diâmetro), com sabugo fino e claro, sem falhas de granação, casca do grão delicada, espigas com bastante palha, baixa produção de bagaço, e alta produção de massa. [15]

A exigência dos consumidores pela qualidade do milho verde têm sido crescente. Os novos padrões de consumo e a internacionalização da culinária têm levado às empresas produtoras de sementes a desenvolver cultivares que atendam às novas necessidades. Trazer sementes de outros países é uma prática inviável tanto pela não adaptação biológica à nossa região quanto pelo gosto regional peculiar do brasileiro.
São poucas as cultivares especialmente desenvolvidas para a produção de milho verde no Brasil. Entretanto, novas cultivares estão em processo de desenvolvimento e adaptação pelas empresas produtoras de sementes, impulsionadas pelo elevado preço de mercado quando comparado às cultivares convencionais. Os sacos de sementes de milho são geralmente padronizados em 60.000 sementes cada.
O ciclo do milho não varia somente de acordo com a variedade. A maturação do milho é controlada basicamente pelas temperaturas enfrentadas durante o seu desenvolvimento, o que é descrito pela teoria dos “graus-dia acumulados”. Sendo assim, nos meses mais frios, o tempo entre o plantio e a colheita gira em torno dos 140 dias (~4,5 meses), enquanto nos meses mais quentes a colheita é mais precoce, ocorrendo em torno dos 90 dias (~3 meses) após o plantio. Já para o milho grão, o ciclo é maior até a colheita, pois se colhe somente quando o grão atinge a maturidade fisiológica.
Épocas de plantio
Podemos plantar o milho verde em várias épocas do ano (escalonamento da produção), pois o abastecimento do mercado deve ser constante devido à impossibilidade da estocagem do produto. Em sistemas não-irrigados, a produtividade esperada com o plantio na época mais propícia (de outubro a dezembro) é de 400 a 500 sacos de 25 kg por hectare. Já em plantios de janeiro a março (safrinha), espera-se se de 250 a 350 sacos por hectare, ou seja, cerca de 1/3 a menos que na safra. Apesar da menor produtividade da safrinha, esta produção é geralmente vendida por melhores preços. O pico de produção em São Paulo ocorre de janeiro a abril, mas o pico de consumo se dá de maio a junho, devido principalmente às festas juninas, gerando o aumento dos preços. Entretanto, devemos também considerar que no inverno existe mais risco de secas e geadas.
Formas de plantio
O plantio do milho pode ser feito em sistema convencional ou em plantio direto, de forma mecanizada, manual ou com matraca, semeando-se de 3 a 5 cm de profundidade. A densidade de plantio, ou seja, o número de plantas por hectare é um fator importantíssimo a ser considerado na produção do milho verde. Plantios mal dimensionados podem gerar baixa produtividade ou espigas pequenas demais, sendo que as densidades geralmente variam entre 30.000 a 70.000 plantas por hectare, com espaçamento variando de 1 a 0,8 m entre linhas de plantio.
As recomendações de adubação para a produção de milho verde são geralmente as mesmas que para a de milho grão. Antes de tudo, devemos realizar a amostragem do solo, enviando-as para análise em laboratório especializado. Se for constatada a necessidade de corrigirmos a acidez do solo, fazemos a calagem do solo, com a aplicação de cal. Além da correção da acidez, devemos também realizar a adubação, que geralmente é feita em 2 etapas: no plantio e cerca de 30 dias após a emergência das plantas (adubação de cobertura). Os principais nutrientes a serem aplicados são os macronutrientes: nitrogênio, fósforo e potássio.

Dentre os principais problemas nas lavouras de milho verde estão as lagartas-do-cartucho (Spodoptera frugiperda), a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), a lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea), a lagarta elasmo (Elasmopalpus lignosellus), e o percevejo-barriga-verde (Dichelops furcatus). Dentre as principais doenças estão as ferrugens tropical, comum, e polissora, as manchas de cercospora e a feosféria. Tanto os insetos quanto as doenças devem ser tratados inicialmente de forma preventiva, principalmente com o uso de variedades resistentes, entretanto, muitas vezes o controle químico é necessário, com o uso de defensivos agrícolas específicos.
Devemos colher o milho verde quando ele se encontra no estádio de maturação chamado de “grãos leitosos”, pois apresentam aspecto leitoso quando espremidos. Nesta fase, os grãos possuem de 70 a 80% de umidade, ou seja, ocorre antes do ponto ideal para a ensilagem (63 a 67% de umidade) destinada à alimentação animal. O ponto de milho verde dura de 4 a 5 dias, sendo que após esse período, o milho já será considerado “passado”. [15]

A colheita pode ser realizada de forma manual ou mecanizada. No Brasil a forma predominante é a manual, fato que se deve ao baixo acesso dos pequenos produtores às máquinas especializadas. Na colheita manual, necessita-se cerca de 10 pessoas para a lotação de um caminhão (500 a 600 sacos de 25 kg) em tempo aceitável. [20]
Terceirização
Existe uma forte tendência da terceirização da colheita pelos produtores. Para reduzir o trabalho do agricultor, quem tem colhido o milho verde são os próprios compradores, que já possuem trabalhadores próprios.
Após a colheita, o milho continua a converter o seu açúcar em amido. Isso faz com que o tempo máximo da colheita ao consumo final gire em torno dos 2 aos 5 dias, quando mantidas à temperatura ambiente. A durabilidade de espigas empalhadas é maior do que as sem a palha.